A dor e a delícia de viajar com bebês

publicado por Tiago dos Reis em 08 de outubro de 2014
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Eu e Maria

Eu e Maria em Paris

Vocês bem sabem que esse é um assunto no qual eu e a Renata nos aventuramos há pouco tempo. Nossa pequena Maria tem apenas 1 ano e meio de vida. Ainda assim, nós tomamos uma decisão bem clara antes mesmo dela nascer: não privar a Maria do nosso hobby predileto. Foi isso que nos fez cair de cabeça nesse desafio.

É claro que, antes de ter um filho, a gente romantiza tudo. A gente acha que nenhuma grande mudança haverá em nosso dia-a-dia se a gente não complicar demais e que “tudo será como antes no quartel de Abrantes”. Eu precisei virar pai para ver que isso é um ledo engano. Por mais que a gente simplifique a forma de encarar a chegada de um filho, a vida se transforma, a rotina se altera, as preocupações se renovam e o tempo se exaure. Definitivamente, as coisas mudam. E nesse “coisas” eu incluo as viagens.

Eu também fui ingênuo e, por algum tempo, achei que continuaria viajando do jeito que viajava antes. Eu subestimei o aumento do custo da viagem com um integrante a mais; eu ignorei a diminuição do meu período de férias com a necessidade de usar parte dele para suprir o fechamento da creche em janeiro; eu nem imaginava o trabalho que teríamos para manter o mesmo volume de bagagem com uma pessoinha a mais; e também não me atentei para o fato de que, fora de casa, a preocupação com os cuidados com o bebê aumentariam. Enfim, eu não era pai. E bastou me tornar um para eu ver que todas, absolutamente todas, as minhas convicções prévias em relação a tudo que diz respeito à criação de um filho eram tão fortes quanto um castelo de areia.

Uma coisa, porém, é certa. Apesar do choque de realidade, a decisão de integrar a Maria em nossas viagens vem sendo cumprida fielmente. Dentro das nossas limitações temporais e financeiras, Maria já rodou com a gente por Venda Nova, na casa dos padrinhos; por Brasília, na casa dos tios; por Trancoso, no carnaval; pela fazenda dos avós no interior de Minas; por Santa Teresa, no interior do Estado; e, mais recentemente, pela Europa (Paris e Portugal). E esse curto – mas bem aproveitado – tempo de estrada já nos revelou uma coisa: viajar com bebês é infinitamente mais delicioso do que doloroso.

Eu e Maria no Oceanário de Lisboa

Eu e Maria no Oceanário de Lisboa

Eu diria que a dor de viajar com um bebê é mensurada de acordo com a sua própria capacidade de adaptação à nova realidade. É que, como eu já disse, o ritmo da viagem muda completamente. E quem não está preparado para isso pode acabar até mesmo se traumatizando e se fechando para novas experiências.

Explico melhor. Quando se viaja com um bebê o nível de imprevisibilidade do seu planejamento aumenta. Sabe aquele dia regrado e cheio de atrações a serem visitadas? Esquece. Você nunca sabe a hora que seu filho vai acordar e nem quando vai bater o cansaço, quanto tempo ele vai demorar para terminar uma refeição, quantas fraldas e roupas você precisará trocar ao longo do dia, quantas idas ao supermercado ou farmácia você precisará fazer para comprar coisas de última hora e quanto tempo será gasto com alguma curiosa e inesperada distração vista no meio do caminho. Por isso, o tamanho da sua disposição para tantos imprevistos dirá o quão dolorosa será a sua experiência na viagem.

Eu confesso que tenho evoluído nessa capacidade de adaptação a cada viagem. Para você ter uma idéia, a volta da viagem de Trancoso foi tão caótica que eu cheguei a pensar em não mais viajar de carro com a Maria. Ficar 9 horas presa a uma cadeirinha foi algo que ela não gostou. E a partir daí eu vi que o ideal é fazer na volta o mesmo que fizemos na ida: dividir o percurso em 2 dias. Em outras palavras, eu me adaptei.

Adaptar também foi preciso quando chegou a hora de planejar uma viagem mais extensa e para o exterior. Nada de roteiros frenéticos e de mudanças freqüentes de cidades. O retrospecto das viagens pequenas anteriores nos serviu de aprendizado para perceber que, quando se está com um bebê, quanto menos deslocamento, maior o aproveitamento do tempo. Por isso, o mais indicado seria desacelerar. Para 15 dias de viagem nós escolhemos 3 cidades (Paris, Porto e Lisboa), o que nos exigiria fazer apenas 2 mudanças (uma de avião e outra de trem). Além disso, todo o roteiro foi montado com o foco voltado para uma única atração diária. O que a gente conseguisse fazer a mais seria “lucro” do ponto de vista turístico.

Maria na fazendo dos avós, no interior de Minas

Maria na fazendo dos avós, no interior de Minas

Digamos que isso é só uma parte das mudanças que viajar com um bebê traz. Nesse post fresquinho do Viaje na Viagem, a Mariana Amaral compilou um sem-número de dicas dadas por leitores para viajar melhor com bebês, o que só confirma o nível de complexidade da coisa.

Aqui em casa, como eu falei, a gente vem se adaptando. E a grande verdade é que nós nos adaptamos por uma razão bem simples: é que, ao final de cada viagem, a gente percebe que nenhuma dor se compara à delícia que é viajar com a Maria.

Nesse ponto, creio eu, fala mais alto aquele lado piegas bobo-alegre romântico que aflora em nós, pais. Mas como definiu a Renata: viajar com a Maria significa estar 24 horas agarrados a ela sem nenhuma outra preocupação que não seja a de nos curtirmos. Sabe aquela história de viajar para fugir da rotina? Pois então. Quando se viaja com um bebê, isso ganha um significado ainda mais especial: você foge da rotina, levando o que ela tem de melhor. Trocar fralda, dar banho, comida, fazer dormir, brincar e etc num cenário novo é ainda mais gostoso e recompensador. Afinal, mudar de ares faz bem pra qualquer um, inclusive para o bebê.

E que fique clara uma coisa. Quando eu falo em “mudar de ares”, eu tô me referindo a QUALQUER viagem para QUALQUER lugar. Não é a sofisticação ou a fama do destino que importa. Como diz a Silvia Oliveira nesse post indispensável para quem tem interesse no assunto, “para o bebê o que importa é estar com os pais. O destino passa a ser apenas um detalhe”.

E, de fato, em Paris ou Santa Teresa, a delícia de viajar com a Maria foi exatamente a mesma. É como se, para nós, pais, o destino também passasse a ser “apenas um detalhe”. O que importa mesmo é estar com o filho e compartilhar as suas reações e emoções.

Eu e Maria em Santa Teresa

Eu e Maria em Santa Teresa

E para quem também quer se aventurar nesse desafio, segue uma lista de blogs de famílias viajantes para se inspirar:

Viajando com Pimpolhos, da Sut-Mie

Malas e Panelas, do Luciano e da Andrea

Felipe, o Pequeno Viajante, da Claudia e do Marlo

Paris des Petits, da Adélia

Café Viagem, da Alexandra Aranovich

1001 Roteirinhos, da Luciane e Eliane

Colagem, da Luciana Misura

Eu Viajo com meus Filhos, do trio Fernanda, Patrícia e Priscila

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Comentários

  1. 08 out 2014

    Eu sempre me pergunto o que essas experiências geram nas cabecinhas das crianças, quantas sinapses são feitas em momentos assim, de descobertas tão incríveis. Sou fascinado por isso. A linda Maria é uma sortuda por ter pais como vocês, que podem dar – e dão! – a ela essas oportunidades.
    Sem falar que a foto de vocês no oceanário é de doer de tão linda. Aposto que vai ser uma das preferidas dela quando crescer. 😉
    Parabéns para vocês dois. Um beijo para a Maria.

    • 09 out 2014

      Obrigado, Gabriel! Uma visão de mundo um pouco mais ampla é tudo o que espero oferecer pra Maria nessas viagens (pequenas ou grandes).
      (se vai ser a preferida dela, eu não sei. Mas que é a minha preferida, isso é!) 😉

  2. Anônimo
    08 out 2014

    Thiaguinho, eu não vejo a hora de seguir seus passos com meu pequeno! Vc faz parecer até a troca de fraldas uma experiência meio romântica… Blogueiro, paizão e poeta – esse é meu amigo!

    • 09 out 2014

      Ô “anônimo”! Volta aqui pra se identificar!
      Eu até imagino quem seja e, por isso mesmo, tenho certeza de que os seus passos serão muito mais firmes e aventureiros que os meus. 😉

  3. 08 out 2014

    Eu só sei que quero me inspirar em você e na Renata quando aparecer um bebê por aqui! 🙂

    E as fotos de vocês são sempre lindas. Adoro!

    • 09 out 2014

      É sério, Camila! Longe de mim querer ficar cobrando isso… mas às vezes eu fico pensando que você, mãe, teria muito a ensinar pra todos nós.
      Se esse for o desejo de vocês, a gente vai ficar aqui de olho nas suas dicas. =)

  4. Silvia
    08 out 2014

    Que Maria tenha inúmeras experiências encantadoras na companhia desses pais maravilhosos!!
    Amei viajar com vocês.
    Beijos nos 3

  5. 08 out 2014

    Excelente post, super lúcido e realista. Vamos viajar pela primeira vez com nosso baby quando ele fizer 7 meses, e de antemão já penso como vc e acredito que vou concordar no resultado: será muito mais prazeroso do que doloroso! 😉 (afinal, se estressar ou aproveitar vai muito do estado de espírito dos pais ao lidar com as novas situações). Parabéns pela postagem, texto muito bacana e bem escrito, gostei mesmo.

    • 09 out 2014

      Obrigado, Simone. E que a sua impressão realmente se confirme na sua viagem! Aproveitem!

  6. Debora
    09 out 2014

    O post está o máximo!! Um dia também chego “lá”! Adorei as dicas! E tenho certeza que as viagens estão sendo maravilhosas com a nova companheira Maria! Beijos Débora herk.

    • 17 out 2014

      Estão sim, Débora. E tenho a leve sensação de que a sua vez está próxima! 😉

  7. Oi Tiago

    Vivemos emoções e expectativas semelhantes, desde a gravidez, quando trocamos dicas de enxoval.
    Coincidência Antônio também iniciou suas viagens por Trancoso, que fomos em Maio e agora fomos a Portugal.
    Acho que tivemos expectativas correspondidas de forma semelhantes,as alegrias nos faz esquecere as dores.
    A questão bagagens e paradas em farmácias e supermercados são imprevistas e constantes, mas que diminuíram também durante a viagem.
    Agora o mais importante de um restaurante ou hotel é a forma que respeita e trata nossos “Piquenos” (com sotaque gostos que os portugueses os tratam). Voltei maravilhado de Portugal com esta relação pessoal, como eles brincam e limpam as bagunças de nossos filhos sempre com sorriso no rosto, não me vi sendo alvo de olhares maldosos em nenhum lugar.
    Apesar de fã dos trens, nesta viagem optei pelo carro, é uma zona de conforto e que nos ajudou muito, mas foi a parte que onerosa da viagem, somente de pedágios gastei 74 Euros.
    Que venham muitas outras viagens para a Marie e o Antônio.
    Abraço e boas viagens!
    @GusBelli

    • 17 out 2014

      Gustavo,
      Estamos mesmo vivendo emoções semelhantes! Muito legal essa coincidência até mesmo na escolha dos destinos, né?
      Nós também voltamos impressionados com a simpatia dos portugueses, especialmente pelo tratamento com a Maria. Foi o que você falou: ao contrário de Paris, não ficamos nem um pouco constrangidos de estar com a Maria nos lugares e restaurantes. Tudo tratado de forma absolutamente natural e compreensiva.
      Eu até tinha pensado em alugar um carro. Mas o tempo e o ritmo da viagem acabaram me fazendo desistir. E aí fomos de trem mesmo.
      Quem sabe um dia vocês não incluem Vitória no roteiro de vocês e a gente apresenta os nossos pimpolhos?
      Abs em toda a sua família!

  8. Jaqueline
    20 out 2014

    Ei Tiago, já estou pegando as dicas para qd chegar minha hora e do Anderson.
    As fotos estão lindas!
    O site é mto interessante, Parabéns!

  9. Carol Spina
    25 fev 2015

    Tiago, que post lindo!
    Ainda não tenho bebês e sempre achei que seria complicado manter esse hobby.
    Tenho que dizer, vc me mostrou um lado lindo que eu não tinha considerado.
    Parabéns!
    ps. a Maria é tãaaao fofa!

  10. Pingback: Santiago com crianças: roteiro sugerido de 7 dias - Rotas Capixabas

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