O fantástico mundo do Inhotim (Inhotim para crianças)
“Um parque temático cabeça”, Ricardo Freire.
“O parque mais inteligente e criativo do mundo”, Silvia Oliveira.
Essas definições do Inhotim que eu reproduzi acima me vieram à mente ao final dos dois dias que eu, Renata e Maria passamos por lá, durante o carnaval desse ano. Há tempos eu e a Renata queríamos conhecer o Inhotim depois do mar de elogios e exageros que a gente lia sobre lá desde a sua inauguração em 2006. Mas visitá-lo na nossa atual condição de pais me mostrou que a definição freire-matraqueana faz todo o sentido: com uma criança a tiracolo, esse espaço multiconceitual que é o Inhotim se torna preponderantemente um parque de diversões. Um parque de diversões onde o encantamento acontece pela realidade das coisas, e não pelas ilusões de um conto de fadas.
Já virou até clichê falar que é impossível não gostar do Inhotim. Mas não seria clichê se não fosse verdade. Por maiores que sejam as suas expectativas em relação ao Inhotim (as minhas, pelo menos, eram altíssimas), você vai acabar se surpreendendo com as suas reações. O Inhotim mexe com os seus sentidos e emoções. E nenhum relato ou imagem que você leu ou viu será capaz de antecipar o que você vai experimentar.
Eu, por exemplo, me vi às voltas com o deslumbramento em vários cantos do museu/parque. A imagem do Vandário, por exemplo, me paralisou.
O mesmo aconteceu quando eu me dei conta da presença desse tamboril centenário e gigante no nosso caminho ao sair do restaurante de mesmo nome.
Ou quando a gente brincou de formar palavras com as letras no jardim da Galeria Marilá Dardot.
Mas não é bem sobre esse tipo de encantamento abobalhado de um adulto que eu quero falar nesse post. O que eu quero ressaltar aqui é que o encantamento que esse fantástico mundo do Inhotim provoca não passa batido aos olhos de uma criança.
O que eu chamo de fantástico mundo do Inhotim é a junção de três das suas múltiplas faces: o Inhotim-museu, o Inhotim-jardim e o Inhotim-floresta. Não é em qualquer lugar que você tem a oportunidade de mostrar ao seu filho arte e natureza numa simbiose tão harmônica, numa estética tão agradável aos olhos. Mais do que isso. Não é em qualquer lugar que você tem a oportunidade de fazê-lo experimentar arte e natureza de uma forma tão lúdica e sensorial.
O Inhotim-museu traz consigo um conjunto de obras de arte contemporânea que favorecem os sentidos e a imaginação dos menores. Aliás, eu – que sou um energúmeno em matéria de arte e sempre torci o nariz para a arte contemporânea – nunca havia parado para pensar que sua abstração e non-sense fossem tão propícias para a interação das crianças.
Na Galeria Cildo Meirelles, por exemplo, eles pisam em um chão cheio de cacos de vidro contornando diversos obstáculos, entre os quais 2 aquários. Se isso lhe parece sem-eira-nem-beira (a mim, particularmente, pareceu), saiba que aquilo foi uma sensação pra Maria.
Na Cosmococa, o que não falta é experiência sensorial. Em uma sala, as crianças brincam com balões. Em outra, deitam em colchões. Em outra, balançam numa rede. E, na última, podem até entrar numa piscina.
Mas, talvez, a experiência preferida da Maria em nossa visita tenha sido aquela proporcionada pelas letrinhas em cerâmica da obra de Marilá Dardot. Não que ela tenha se dedicado ao processo de jardinagem ou de semeadura de idéias, que a artista propõe aos adultos incrédulos. O que ela gostou mesmo foi de ficar catando pedrinhas pelo jardim para colocar em cima das letras.
O encantamento ganha diferentes contornos com o que eu chamo de Inhotim-jardim. Digamos que essa face do museu/parque faz aquela função de “pracinha da esquina de casa”. Só que ela faz isso numa proporção gigante e com o privilégio de um paisagismo a la Burle Marx.
Você nem precisa entrar no museu/parque para já se encantar com a exuberância da coleção botânica do Inhotim. Nesse corredor verde que liga o estacionamento à recepção, você tem uma pequena mostra daquela que é considerada uma das maiores coleções de palmeiras do mundo.
Lá dentro, porém, é que você tem a real dimensão de que está num museu/parque absolutamente incomum. Mais do que um museu, o Inhotim é um jardim botânico; um jardim botânico cuja coleção é a maior em número de espécies de plantas vivas do Brasil.
A diversidade e beleza desse imenso jardim tornam incrivelmente agradável o passeio pela sua área externa. No caminho de uma galeria a outra, você pode fazer uma pausa e recarregar as energias em bancos, fontes, lagos, gramados e, claro, obras de arte ao ar livre que funcionam como uma espécie de playground para as crianças. Foi assim com as paredes coloridas da Magic Square, de Helio Oiticica:
E foi assim também com os “fusquinhas coloridos” da obra Troca-Troca, de Jarbas Lopes.
O nível de interação que essas duas obras provocaram na Maria foi surpreendente para nós e renderam momentos inesquecíveis.
Por fim, o Inhotim-floresta fecha o triunvirato responsável pelo alto grau de encantamento das crianças. Em alguns pontos, o jardim vira bosque e o contato com a riqueza natural da mata atlântica – bioma preponderante no parque – se faz. Entram em cena as grandes árvores, as nascentes de rio e os “bichinhos” que povoam o imaginário infantil, como patos, cisnes, borboletas, pássaros e caxinguelês.
O segundo dia da Maria no museu/parque foi praticamente voltado para a procura dos famosos “esquilos” do Inhotim (que não deram o ar da graça no primeiro). A cada galeria visitada, a cada jardim percorrido, vinha a pergunta: “aqui tem esquilo?”.
Aqui eu vou me valer de um ensinamento de Maria Montessori, educadora italiana, para tentar explicar tamanho encantamento: “não há descrição alguma, nenhuma imagem em qualquer livro que seja capaz de repor a visão de árvores reais, e tudo da vida que pode ser encontrado ao redor delas, numa floresta de verdade”. Não sei você, mas não é todo dia que eu tenho a oportunidade de apresentar à Maria uma “floresta de verdade”. Não é todo dia que eu tenho o privilégio de apreciar ao lado dela a visão de “árvores reais” (embora a gente cruze com árvores várias vezes ao dia).
Daí que essa face “floresta”, talvez, seja a cereja do bolo do fantástico mundo do Inhotim. Talvez ela seja o que faz do Inhotim “um parque temático cabeça” ou “o parque mais inteligente e criativo do mundo”. Pelo menos aos olhos de uma criança. Porque não há terreno mais fértil para a imaginação infantil do que a própria natureza.
Enfim, nesse fantástico mundo do Inhotim aquele princípio de “encantar-se com as coisas do mundo” é elevado à máxima potência.
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Oi, Tiago. Tudo bem? 🙂
Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
Chique demais, Natalie! Obrigado!
Que texto lindo. Também estive com minha família no carnaval. è realmente uma experiência incrível, que você conseguiu expressar de forma muito poética e sensivel. A propósito, meu filho é aluno montessoriano.
Ivana
Oi, Ivana! Obrigado pelo elogio!
Como a gente gostaria de dar à Maria a oportunidade de estudar numa escola montessoriana! Mas aqui em Vitória não tem… 🙁 Sorte a sua e, principalmente, do seu filho!
Abs
Babei, apenas! Um dia eu vou!
Qual a idade da Maria na época da visita? Estou com uma bebê que vai fazer 1 ano, e já fico imaginando quando vou poder fazer este tipo de programação.. #maeviajanteansiosa
Oi, Livia! Desculpa a demora! Maria tava com 2 anos completos. Pra sua filha aproveitar o lugar acho que vale a pena esperar mais um pouquinho. Mas se vcs quiserem só uma desculpa pra viajar com ela, tá valendo! 😉