Sevilha: razões para amar

publicado por Tiago dos Reis em 14 de janeiro de 2016
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Sevilha

Confesso que Sevilha não estava nos planos iniciais da viagem que fizemos à Espanha nas nossas férias desse ano. Depois de uma pesquisa superficial sobre o país, eu tinha chegado a 2 conclusões: a) a Andaluzia merecia uma viagem específica, inteiramente dedicada à região; e b) para diminuir o nosso deslocamento e o troca-troca de hotel, nossas bases se limitariam a Madri e Barcelona.

Por isso, Sevilha quase foi descartada.

“Quase” porque, aos 45 minutos do 2º tempo do planejamento da viagem, uma conversa que tive com a Poliana Cardoso, do blog Comendo Chucrute e Salsicha, num providencial almoço de blogueiros aqui em Vitória me fez reavaliar definitivamente aquela decisão. Com a autoridade de quem morou por um tempo na cidade, ela fez tantos elogios e recomendou tanto a inclusão de Sevilha no meu roteiro que eu me convenci. Refiz os cálculos e considerei viável dedicar 3 noites – das 18 que nós teríamos na Espanha – a Sevilha. Tal qual fizemos com Florença em nossa viagem à Itália, Sevilha seria uma espécie de aperitivo da Andaluzia, só para deixar aquele gostinho de quero mais.

Sevilha

E como eu agradeci à Poliana por esse empurrãozinho!

Por tudo o que eu já havia lido sobre a Andaluzia e, especialmente, sobre Sevilha, eu já sabia que ia gostar da cidade. Eu só não sabia que ia gostar com a intensidade que eu verdadeiramente gostei. Mesmo com a expectativa devidamente ajustada para conhecer uma cidade que tem todos os atrativos turísticos que me agradam, Sevilha foi capaz de me arrebatar com um conjunto de circunstâncias aleatórias que, definitivamente, fizeram toda a diferença.

Em primeiro lugar, o clima.

Sevilha

Para quem vinha de um tempo bem instável em Madri, chegar sob o céu azul de Sevilha foi reconfortante. O calor – nem tão escaldante – de 30º foi suficiente para derreter os nossos corações. Como foi bom dispensar as camadas de roupa e andar de blusa de malha e bermuda em pleno outono europeu!

A gente reclama do sol e do calor tropical, mas não tem nem ideia de como eles fazem toda a diferença na nossa disposição e no nosso humor cotidiano. Passar pelo calor de Sevilha foi uma espécie de paradinha estratégica para repor as doses de vitamina D no corpo pós-Madri e antes de seguir para Barcelona. 😉

E o calor de Sevilha veio no encalço de uma luminosidade diurna que fazia a cidade brilhar feito ouro, especialmente ao entardecer. Eu entendi imediatamente porque Sevilha também é conhecida como cidade dourada!

Sevilha

Em segundo lugar, a beleza do centro histórico.

Sevilha

Sevilha não é propriamente uma cidade pequena. Na verdade, ela é a quarta maior cidade da Espanha. Mas, para fins turísticos, o centro histórico da cidade, junto com os bairros de Santa Cruz e Triana, costumam ser mais do que suficientes para uma experiência de introdução aos cenários encantadores da Andaluzia.

Sevilha

A região turística da cidade é facilmente percorrida a pé. Isso é uma grande vantagem de Sevilha porque boa parte do seu encanto está nas ruelas quase escondidas, nas fachadas, pátios e jardins dos casarios antigos e nas praças. Ficamos 2 dias inteiros na cidade e, confesso, nem a Triana eu fui. Fiquei tão encantado com a arquitetura singular da região central da cidade, que rodei praticamente em círculo, percorrendo quase sempre as mesmas ruas e quarteirões.

Sevilha

Quando eu falo em arquitetura singular, eu me refiro àquele elemento absolutamente inusitado que fez a fama da Andaluzia: a arte mudéjar e sua influência islâmica, principal legado dos tempos em que os mouros dominavam a região. Em alguns lugares, o cenário é tão incrivelmente “muçulmano” que você chega a duvidar que está na Europa.

Nesse ponto, nada se compara às paredes e os tetos tipicamente islâmicos dos ~ incríveis ~ aposentos do ~ impressionante ~ Palácio de Don Pedro, parte integrante do ~ magnífico ~ Real Alcázar de Sevilha, um lugar em que todo e qualquer superlativo se faz necessário. Não por acaso, o lugar é um dos 3 patrimônios da humanidade que a Unesco declarou em Sevilha (os outros 2 são a Catedral e o Arquivo das Índias).

Sevilha

Sevilha

Você também vai se sentir num pedacinho da África moura ou da Arábia quando se deparar com um pátio ou jardim tipicamente sevilhano (ou andaluz), como esse do Restaurante e Hotel El Jardin de las Tapas:

Sevilha

A arte mudéjar é só o aspecto mais exótico – pelo menos pra nós, ocidentais – de uma cultura que também conta com influência do cristianismo e do judaísmo. Do primeiro, Sevilha herdou suas belas igrejas, com destaque para a suntuosa Catedral, considerada a maior igreja gótica do mundo.

Sevilha

Da cultura judaica, no entanto, pouco se vê. A maioria das sinagogas e edifícios judaicos foram demolidos após a expulsão dos judeus da Espanha, no final do século XV. A expressão mais visível da antiga judería – localizada onde hoje é o bairro de Santa Cruz – é a estética urbana de ruelas e praças.

Sevilha

Andar por ali, aliás, foi uma das coisas mais prazerosas que fiz na cidade. Descobrir que o Google Maps estava certo e que o caminho prosseguia por um beco estreito e quase invisível era bem divertido.

Sevilha

Em terceiro lugar, o jeito kids-friendly de ser. 

Sevilha

A verdade é que a gente não precisou se esforçar nadinha para que Sevilha caísse nas graças da Maria. Bastou ela avistar o primeiro cavalo puxando uma charrete pelas ruas da cidade e pronto! A pessoinha não falava em outra coisa. 😉

Mais kids-friendly do que um city-tour em cima de uma charrete, impossível.

Sevilha

 Mas isso é só uma pequena amostra do quão acolhedora a cidade é para as crianças. Pra começar, Sevilha se transforma facilmente num reino encantado quando a criança se dá conta de que há um castelo medieval bem no meio da cidade (o Alcázar).

Sevilha

Foi bem fácil convencer a Maria a explorar aquele reino logo no dia da nossa chegada. Eu nunca vou me esquecer dessa tarde, em que andamos sem rumo pelas ruelas do bairro Santa Cruz.

Sevilha

O entusiasmo com Sevilha era tão grande que, no dia seguinte, até banho de fonte a gente tomou. 😉

Sevilha

O passeio de barco na Praça Espanha foi outro programa que a Maria adorou e que nos proporcionou um ótimo programa em família.

Sevilha

Bem pertinho da praça, o Parque Maria Luísa, o Aquário de Sevilha e a roda-gigante La Noria são outros lugares sempre recomendados para crianças, mas que nós não tivemos tempo de conhecer.

Mas, se tem uma coisa capaz de provocar um encantamento inesperado nas crianças, essa coisa é o flamenco. Pelo menos, foi assim com a Maria. Não sei se foi o figurino, a elegância dos passos ou o barulho do sapateado, mas alguma coisa atiçou a curiosidade dela desde o seu primeiro contato com a dança. Ela ficou paralisada, por vários minutos, dentro do Museu do Baile Flamenco assistindo a uma aula de flamenco.

Sevilha

Lá dentro, numa sala que simulava um show virtual de flamenco, com projeções de cenas contínuas da dança na parede, não demorou muito para Maria deixar a timidez de lado e se render à música. Ela ficou alguns bons minutos improvisando passos de flamenco como se fizesse parte do elenco de bailarinas que se revezavam na parede.

Sevilha

Enquanto eu e Renata assistíamos calados, com aquele olhar abobado, ao show da Maria, a gente intuitivamente agradecia Sevilha por nos proporcionar a melhor lembrança de toda a viagem.

Sevilha

À noite, durante a apresentação do tradicional show de flamenco, o receio inicial do escuro e do ambiente nada familiar logo deram espaço ao olho arregalado, à inquietação do corpo e àquele monte de perguntas que uma criança faz quando a curiosidade lhe invade.

Sevilha

Em quarto e último lugar, o nosso hotel.

Sevilha

Aquele conjunto de circunstâncias aleatórias que favoreceram o nosso encantamento por Sevilha também inclui o nosso hotel. Isso eu não posso negar. Ficar no Murillo Suites fez toda a diferença na nossa experiência de viagem.

Na verdade, o Murillo Suites é um prédio de apartamentos pertencente ao Hotel Murillo. Não há recepção no local, mas todo o suporte é dado pelos funcionários do hotel, que fica bem próximo.

A suíte é incrivelmente espaçosa, com 4 ambientes: cozinha, sala, quarto e banheiro. Tudo decorado com bom gosto e extremo conforto.

Sevilha

Embora você tenha tudo à disposição para preparar sua própria comida, o café da manhã está incluído na diária (assim como as bebidas do frigobar). Você tem 2 opções: ir até o hotel para tomar o café da manhã no restaurante ou pedir um café continental no próprio quarto. Mais uma vez, Sevilha foi gentil comigo. Me livrou da preocupação com o desjejum e me permitiu dormir até mais tarde.

Olha que mordomia! 😉

Mas incrível, incrível mesmo é a localização do hotel: bem em frente ao Real Alcázar de Sevilha. A visão da nossa suíte era essa:

Sevilha

Era abrir a janela para interromper o silêncio que reinava no quarto com a vista dos 2 maiores símbolos de Sevilha: o Alcázar e a Catedral.

Talvez, essa reunião de circunstâncias aleatórias tenha favorecido fortuitamente a avaliação de Sevilha na nossa viagem. Nunca se sabe. Mas eu não poderia deixar de retribuir com muito afeto uma cidade que, recorrentemente ou não, me deu tantas razões para amar.

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Comentários

  1. Eloá
    27 nov 2016

    Muito legal o texto! Apesar de morar em Vitória, não conhecia o blog, vi a indicação do post no Ricardo Freire. Perfeito e muito útil pois vamos com nossa filha de 4 anos pra Espanha em janeiro e ficaremos 3 dias em Sevilha.

    • 28 nov 2016

      Obrigado pela visita e comentário, Eloá!
      Tenho certeza que vocês, mas especialmente a sua filha, vão adorar Sevilha!
      Se precisarem de alguma ajuda, é só falar.

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