Observação de Baleias Jubarte em Vitória: como é o passeio?
(Esse post foi publicado em maio de 2018. Em julho deste ano (2019), o Théo, responsável pela agência AVES, me contactou para fazer algumas correções nas informações do texto e contar as novidades que foram implementadas no passeio este ano. Incluirei as observações do Théo ao longo do texto, em itálico, entre parênteses e na cor azul, após os trechos em que elas forem pertinentes para o propósito de corrigir e atualizar a informação)
Na minha cabeça de turista, esse seria um relato mega emocionante, cheio de fotos lindas e adjetivos elogiosos ao passeio. Ter a oportunidade de ver uma ou muitas baleias jubartes nadando em mar aberto assim, bem pertinho de casa, não é pra qualquer um. Fora que, na minha cabeça de blogueiro, a coisa toda tem um potencial turístico tão grande que eu não via a hora de ajudar a divulgar.
Eu estava pra lá de empolgado.
Aí o dia do passeio chegou e… a realidade foi bem mais dura do que eu imaginei. O turista que habita em mim vai dizer pra todo mundo que me perguntar que esse foi um dos passeios mais emocionantes que eu já fiz, que a visão das baleias não vai sair da minha memória nunca, e tal. Mas o blogueiro que também habita em mim precisa ser sincero com meus leitores e prepará-los para o que pode vir a acontecer com você durante o passeio: enjôo, muito enjôo.
Pelo menos foi isso o que aconteceu comigo e com 90% dos turistas que fizeram o passeio no mesmo dia. Foi só o barco atravessar a baía de Vitória e entrar em mar aberto para começar a sessão de revezamento entre os tripulantes para despejar no mar você sabe o quê. Ao que me consta, só a minha afilhada Júlia e a minha filha Maria – as únicas crianças do passeio – não enjoaram de fato. Todos os adultos tiveram algum tipo de indisposição.
Pra você ter noção, nem foto das baleias eu tirei!!! O máximo que eu fiz foi tirar umas fotinhas da Baía de Vitória e da visão insider da 3ª Ponte logo que o barco partiu.
Mas não demorou muito pro meu enjôo começar e eu deixar a máquina de lado. Por isso praticamente todos os registros que você vê aqui foram gentilmente cedidos pelo pessoal do Projeto Amigos da Jubarte, idealizador do passeio, especialmente pelo fotógrafo Leonardo Merçon (obrigado, pessoal!).
Por isso que, antes de passar a falar mais detidamente sobre o passeio, eu precisava fazer esse alerta para que você tenha consciência dessa possibilidade – que é, aliás, o único lado negativo do passeio – e não deixe que ela venha a estragar a sua emoção ao fazê-lo caso ela aconteça. Talvez eu tenha subestimado um pouco o risco de ficar enjoado e, pelo menos durante o passeio, isso atrapalhou bastante o meu aproveitamento. E é isso que eu não quero que aconteça com você. Porque, no final das contas, acredite: todo o esforço será recompensado pela visão das baleias jubarte nadando livres, leves e soltas bem, ali, na sua frente. Eu digo isso com base não só na minha própria racionalidade – que me permite abstrair a posteriori os efeitos nefastos do enjôo e enxergar o lado bom da coisa – mas também e, principalmente, na emoção que as crianças – que não sofreram com indisposição – tiveram. O “durante” pode até ser tormentoso. Mas o “depois” se revelará inesquecível.
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Então, bora falar de coisa boa. Bora falar desse privilégio que é ver as baleias jubartes em seu habitat natural bem aqui em Vitória.
BALEIAS JUBARTE EM VITÓRIA
Para quem não sabe, as baleias jubarte visitam o litoral brasileiro todos os anos em busca de águas mais cálidas que as da Antártida para se reproduzir. O destino principal delas é o arquipélago de Abrolhos, na Bahia. Mas uma parte ~ preguiçosa ~ do grupo acaba ficando pelo caminho e aproveitando as águas (nem tão) quentinhas do mar capixaba. Elas chegam em meados de junho e ficam até o final de outubro e início de novembro, quando acontecem os passeios de observação.
(A maior parte do avistamento se dá com as baleias q estão de passagem pelo ES e o banco de abrolhos já começa no litoral norte do ES, logo após o município de Aracruz.)
Elas já são acompanhadas há bastante tempo por pesquisadores e biólogos interessados no ciclo de vida da espécie e no mapeamento da rota que elas fazem em águas capixabas. Mas só agora surgiu a ideia de explorar turisticamente a atração, aproveitando as condições naturais e logísticas que “Deus nos deu” para ter um passeio de whalewatching redondinho pra chamar de nosso.
Eu olho pra isso e já vejo hordas de turistas estrangeiros desembarcando em Vitória pra ver baleia jubarte num futuro não muito distante! Você há de convir que, logisticamente falando, Vitória é bem mais estratégica para se beneficiar desse tipo de turismo que Abrolhos. =) #vemgente
COMO AGENDAR O PASSEIO?
A atração nasceu pelo esforço conjunto de 3 institutos: Instituto O Canal, Instituto Últimos Refúgios e Instituto Ecomaris que, em parceria com a Prefeitura de Vitória, Vale, UFES, Finordia e o Instituto Baleia Jubarte, criaram o Projeto Amigos da Jubarte. Através desse projeto, eles passaram a trabalhar junto a agências de turismo para certificar instrutores aptos a acompanhar os turistas nos passeios.
São eles que fazem a intermediação entre os turistas e as agências. Basta você se cadastrar no site do Projeto (www.queroverbaleia.com) que eles repassam o seu contato para a agência que você preferir.
Atualmente, são 7 agências credenciadas: Natura Ecoturismo, AVES, Blue Trip, Jubarte Safari, Poltrona I, Vitória Tugs e Cia do Mergulho. Cada uma se diferencia pela embarcação utilizada, pelo local de embarque, pelo preço e por um ou outro detalhe na prestação do serviço (que você pode comparar nos links que eu referenciei acima). De todo modo, você escolhe a agência de preferência, mas pode não ser direcionado a ela. É que isso vai depender se ela terá saída programada para o dia pretendido. Caso contrário, o projeto encaminhará o seu contato para alguma que possua o passeio agendado para aquele dia.
As saídas regulares se dão aos sábados e domingos. Mas é possível fechar saídas em outros dias para grupos com número mínimo de pessoas. Isso é combinado diretamente com a agência.
Além disso, as saídas dependem de condições climáticas adequadas para acontecerem. Por isso, apesar do agendamento prévio, somente na véspera é que você vai ter a confirmação do passeio por parte da agência. Caso contrário, elas remarcam ou reembolsam o valor adiantado (se você não puder fazer em outro dia).
Veja outras opções de passeio em Vitória
O PASSEIO COM A AVES
Minha cunhada Gabriela (beijos, Gabi!) foi quem tomou a frente da contratação do nosso passeio. Ela preencheu o formulário no site sem indicar a agência de preferência e esperou o contato de alguma delas para combinar a data da saída. Depois disso, o pessoal da AVES entrou em contato por telefone e, confirmado o dia do passeio, criou um grupo no WhatsApp para reunir os participantes e facilitar a troca de informações sobre o tour.
No grupo, a agência passa um sem número de recomendações de segurança e de medidas preventivas para – tentar – evitar o enjôo. Dormir bem na noite anterior, evitar comidas gordurosas na véspera, tomar um café da manhã leve no dia do passeio, tomar remédio para náuseas, como vonau, dramim etc (assumindo a responsabilidade pelos riscos da auto-medicação) e, durante a viagem de barco, evitar olhar para dentro da embarcação e manter a visão num ponto fixo da linha do horizonte. Mas é aquela coisa. Eu fiz quase tudo isso, mas ainda assim fiquei enjoado.
Havia uma certa dúvida sobre a saída do nosso passeio porque o tempo estava bem instável, com chuvas esparsas durante toda a semana. Mas, na véspera, a gente obteve a confirmação da saída. Fomos orientados a chegar as 06:30 na pracinha da Chocolates Garoto, na Glória, em Vila Velha para depois nos dirigirmos ao local de embarque.
Aí vai uma pequena crítica em relação ao passeio com a AVES: o local de embarque. Ele acontece em algum ponto entre o Terminal Portuário de Vila Velha e a Casa de Custódia da Glória, num lugar ermo e conhecido por não ser muito seguro. É que a embarcação que eles utilizaram no nosso tour fica atracada num pier dessa região.
(Os barcos utilizados pelas agências precisam ser vistoriados e autorizados pela Capitania dos Portos e por isso, no caso da AVES, o local do embarque tinha que ser em Vila Velha, no pier da Glória, dada as características do calado da embarcação. Não fazíamos o embarque em local melhor, não por culpa da agência, mas sim, por culpa de nós, enquanto sociedade (poder público como o estado e prefeitura e envolvidos na questão) ainda não terem feito um píer de qualidade para os turistas.)
Pelo que consta na página da AVES no site do Projeto Amigos da Jubarte (veja aqui), o local do embarque não é fixo e depende do lugar em que a embarcação utilizada no passeio está atracada. Talvez a gente não tenha dado sorte nesse ponto. E fica aqui a minha sugestão para que a agência evite aquele local. Porque, sendo bem sincero, eu não teria coragem de recomendar esse passeio com a AVES se o embarque se der nesse mesmo lugar (taí uma coisa que você poderia exigir da agência, caso seja ela a operadora do seu passeio). Principalmente porque outras agências, como a Natura, a Jubarte Safari, a Poltrona I e a Vitória Tugs, tem embarque fixo num local muito mais seguro: o píer próximo à Capitania dos Portos, na Praça do Papa, em Vitória. E o detalhe: pelo mesmo preço.
(O píer próximo a capitania dos portos não foi utilizado para embarque e desembarque de turistas para o passeio de observação de baleias em 2018. A pretensão era esta, mas na prática, não ocorreu.)
Pelo que foi falado pela instrutora da AVES que nos acompanhou durante o passeio, a coisa ainda está em uma fase experimental e, com a ajuda do feedback dos turistas, deve passar por mudanças ao longo do tempo. Por isso eu faço esse alerta para que eles repensem – e logo – a utilização do píer na Glória como local de embarque do passeio. Estar em grupo pode até aumentar a sensação de segurança. Mas, para quem vai de carro e deixa o veículo estacionado por lá, há um risco. Isso não dá pra negar.
(O que foi falado pela instrutora da aves que o embarque ainda estava em uma fase experimental, não se referia apenas a aves, mas sim, à atividade turística de observação de baleias do estado, ou seja, é uma questão nossa, enquanto sociedade que depende, principalmente, do poder público resolver e não culpa da agencia aves)
Em 2018, o valor por adulto era de R$210,00 e R$130,00 para crianças até 12 anos (desconto de 10% a partir de 3 pessoas). Em tese – repito, EM TESE – não há restrição para crianças pequenas, sendo permitido até bebês de colo, que não pagam. Mas eu confesso que não acho o passeio muito apropriado para eles por causa das adversidades e do longo tempo de duração da viagem. A Maria, que já tem 5 anos, ficou entendiada em boa parte do tempo e só sossegou mesmo depois de ver as baleias, lá pela metade do passeio. E para nossa sorte, nem ela, nem minha afilhada tiveram enjôo, o que facilitou bastante.
Portanto, se querem saber a minha opinião, eu digo: eu só recomendaria o passeio para crianças acima de 5 anos. Se para um adulto já é bem desagradável ficar enjoado sem qualquer perspectiva de interromper a viagem e poder regressar a terra firme, imagina para um bebê ou uma criança pequena? Prefiro nem imaginar.
Por isso que o Antônio, por exemplo, vai precisar chegar até os 5 anos pra ver as baleias. 😉
A duração prevista do passeio é de 6 a 8 horas. Tudo depende do tempo gasto para localizar as baleias e para interagir com elas. O nosso saiu às 07:30 e o retorno se deu por volta de 13:00. Segundo o pessoal da tripulação, foi fácil encontrar as baleias naquele dia. Estávamos a aproximadamente 20 milhas da costa (pode-se navegar até 25 milhas). E, no total, ficamos quase 1 hora parados, observando-as.
Durante todo o trajeto havia frutas, águas e sucos disponíveis no interior do barco.
O ENCONTRO COM AS JUBARTE
2 horas depois da saída do barco nos deparamos com o primeiro grupo de baleias. Pronto! Aquele receio de ser a primeira turma de turistas a não ver baleias, apesar de todo o esforço e náuseas, estava vencido. Nós, enfim, entrávamos para o seleto grupo de turistas que viram as baleias. (pelo menos até o dia do nosso passeio nenhum grupo ficou “a ver navios”. Todos tiveram a sorte de avistar as baleias)
Nesse momento o barco parou por completo. Começaram, então, os sucessivos gritos de exclamação das pessoas que avistavam qualquer sinal das baleias:
“Olha lá, uma baleia mergulhando!”
Ahhhhhhhhhh!
“Ali, o rabo de outra!”
Ehhhhhhhhhh!
“Lá, duas baleias juntas!”
Ohhhhhhhhhh!
“Ali!!! Um casal de baleias namorando!!!”
Oinnnnnnnnn!
Enfim, todo mundo (ou quase) nauseado e, ao mesmo tempo, paralisado, encantado, maravilhado, abobado com o movimento e a interação das baleias.
Sim, elas não só se movimentam para lá e para cá, como também parecem interagir com as pessoas do barco. Uma nadadeira que levanta e parece dar tchau. Uma baleia que submerge e expele água. Uma cauda que se levanta para dizer “oi”. Pode ser tudo fruto da nossa imaginação, claro. Mas quem é que há de provar que não é essa, de fato, a intenção delas?
Eu sei que é clichê e tal. Mas não dá pra descrever a emoção de chegar assim tão pertinho das jubarte em seu habitat natural. É tipo a emoção que a gente sente quando vê um animal “exótico” enjaulado num zoológico mas sem aquele peso na consciência ou constrangimento de pagar para vê-lo enjaulado num zoológico, sabe?
Na hora que as baleias deram o ar da graça eu já estava pra lá de Bagdá em meu solilóquio nauseabundo. Enquanto a Maria, a Julia (minha afilhada) e a Gabi (minha cunhada) ficaram lá na proa curtindo de camarote o vai-e-vem das baleias, o máximo que eu conseguia era levantar a cabeça e saudá-las com um sorrisinho de canto de boca para não fazer desfeita. Afinal, elas não tiveram culpa alguma pelo meu mau-estar.
Eu não sei ao certo o número total de baleias que vimos durante o tempo em que ficamos estacionados. Chutaria talvez uma dezena delas, entre adultos e filhotes. Dezenas de baleias que nadavam embelezando o skyline de Vitória, como você pode ver nessa foto belíssima que eu também surrupiei do site do Projeto Amigos da Jubarte :
Quando o barco dá meia-volta para regressar à terra firme você se dá conta que todo aquele espetáculo está acontecendo praticamente no “quintal” da sua casa. A gente navegou 20 milhas mar adentro e a visão da baía de Vitória permaneceu lá, incólume, durante todo o passeio. De um lado, você vê baleias jubarte, aqueles bichos gigantes e quase intocáveis, nadando e bailando em seu habitat natural. Do outro, você avista a baía de Vitória em todo o seu esplendor imagético, reinando absoluta por toda a costa. Uma visão de tirar o fôlego de qualquer um. Até mesmo dos nauseabundos, como eu.
O retorno, como sempre, parece durar menos tempo. Talvez, a anestesia do encontro com as baleias favoreça a sensação de torpor que a tudo faz relevar. Desembarcamos no mesmo local do embarque por volta de 13:00. A partir daí, acaba o serviço da agência e cada um segue o seu rumo por conta própria. Quem não foi de carro, arrumou carona com outro participante ou chamou táxi/uber. Talvez um traslado por parte da agência da/para a pracinha da Garoto, na Glória, minimizasse um pouco o transtorno que a sensação de insegurança do local nos passa.
De todo modo, apesar das críticas que eu fiz ao serviço da AVES (e que são perfeitamente superáveis) e, principalmente, do risco de enjôo, não há como não recomendar esse passeio por toda a emoção e encantamento que ele proporciona. Temos, enfim, um produto turístico com potencial para colocar o Espírito Santo, de vez, na rota do ecoturismo internacional.
Para terminar, é bom explicar que a temporada das baleias deste ano já acabou. Fuen fuen fuen. Foi muita falta de timing minha publicar esse post depois desse período. Foi mal! Mas programem-se para aproveitar a temporada 2019, a partir de junho. Até lá é provável que a própria logística e a estrutura de recepção dos turistas já tenha se aperfeiçoado. Vamos torcer!
Oi, Tiago. Tudo bem? 🙂
Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
Bom demais isso, Nat! Brigadão!!!