Vila Bela
A história não foi justa com Vila Velha. A primeira vila do Espírito Santo – e a segunda do Brasil – logo se viu abandonada pelos colonizadores após os constantes ataques de piratas franceses e holandeses. A mudança forçada dos colonos para a Ilha de Santo Antônio acabou, então, traçando o destino cruel: a antiga vila foi superada em desenvolvimento e importância pela nova até ser preterida, em tempos modernos, da condição de capital. Até o nome foi herdado de uma incômoda comparação com Vitória, a “Vila Nova”…
E assim nasceu o que eu chamaria de “complexo de Vila Velha”.
Vila Velha é uma cidade, por assim dizer, complexada. Talvez esse complexo seja comum entre as cidades que gravitam ao redor de capitais, mas em Vila Velha ele parece se potencializar. E não é pra menos. Vila Velha é o município mais populoso do Espírito Santo, o mais antigo, o que possui o maior centro comercial e, ainda por cima, é maior em extensão que Vitória; mas a capital é Vitória. De nada adianta a Vila Velha ter praias mais bonitas que Vitória, atrativos históricos tão interessantes quanto os de Vitória e opções de lazer quase tão boas quanto as de Vitória se, no final das contas, tudo se resume a uma dolorosa referência à capital Vitória… Tem coisa pior para a auto-estima de um canela-verde (como são chamados os naturais de Vila Velha) do que ouvir alguém dizer que o Convento da Penha, o Forte de São Francisco Xavier, a Prainha, o Morro do Moreno, a Praia da Costa, a Barra do Jucu e a fábrica de chocolates Garoto são atrações de Vitória? Pois então se liga: tudo isso está em Vila Velha!
A vizinhança com Vitória é um eterno fardo para Vila Velha. Fica difícil emancipar-se turisticamente ao lado de uma capital minimamente interessante. Mas Vila Velha não tem com que se preocupar. Há muito mais prazer em ser a coadjuvante surpreendente do que a protagonista comum.
A bem da verdade, Vila Velha e Vitória são como irmãs, não rivais. Elas se complementam de tal forma que suas diferenças mais parecem criadas para fortalecer uma à outra. Quer ver? Vitória é a ilha; Vila Velha, o continente. Vitória é cosmopolita; Vila Velha, bairrista. A orla de Vitória é politicamente correta; mas o mar de Vila Velha é próprio para banho. O trânsito de Vitória é engarrafado; as ruas de Vila Velha, um tanto quanto caóticas. Vitória é esnobe na Praia do Canto; Vila Velha esnoba na Praia da Costa. Vitória é pobre e fascinante na Ilha das Caieiras; Vila Velha, simples e encantadora na Barra do Jucu. O turismo em Vitória é organizado; mas é em Vila Velha que ele é mais bem sinalizado. Vitória tem as paneleiras; Vila Velha, o congo. A história de Vitória começa no centro; a de Vila Velha, na prainha. Vitória se defendia no Forte São João; Vila Velha, no Forte de São Francisco Xavier. Vitória tem o Palácio Anchieta; Vila Velha, o Convento da Penha. E é por tantas diferenças que eu não receio em dizer: Vitória é o Espírito; Vila Velha, o Santo.
Não é que tivemos uma belíssima união?
Se prepare para conhecer as belezas da nossa Vila mais Velha. E bela também!
Não é que é a pura verdade!!!
Adorei o post!!!
Bjs,
Gabi.
Tiago,
que barato seu texto, narrativa poética é sempre bem vinda especialmente quando a inspiração, ou melhor, as inspirações são boas. Tenho convicção que “hora dessas” as belezas do solo capixaba serão descobertas e valorizadas, primeiramente por nós, capixabas, e partir daí pelos demais. Abraço.
Poxa, Fabio, assim o blogueiro vai “se achar”! rsrsrs
Na verdade, isso é exatamente o que queremos com o “Rotas”. Tornar o ES mais conhecido e valorizado pelos seus!
Abs,
Tiago
Amei o texto! Mais uma vez, parabéns!!!
Valeu, Ju!